A gente se dá conta de que o tempo passou e que estamos completando hoje 1 ano de Canada.
Se olharmos para trás podemos resumir esse ano em apenas 1 palavra: Aprendizado! Aprendemos muito mais nesse ultimo ano do que em qualquer outro ano de nossas vidas, tanto em coisas práticas do dia a dia quanto em lições de vida e quebra de preconceitos, e a cada dia agradecemos pelo privilegio que temos tido de poder viver tudo o que estamos vivendo aqui. E para celebrar esse 1 ano de vida nova, queremos compartilhar aqui um pouco do que aprendemos.
Aprendemos a ser tolerantes, respeitar diferenças e que nem sempre o que é normal pra mim, pode ser normal para o outro e vice e versa. Aprendemos que opção religiosa, politica ou sexual não definem caráter e que cada um é livre para fazer o que bem entender da sua própria vida e que isso não é da conta de mais ninguém. A sensação de liberdade de viver sem ter milhares de pessoas cuidando da nossa vida é ótima e fez também com que a gente aprendesse a ser a pessoa que somos de verdade e não aquela pessoa que outros queriam que a gente fosse. Vivemos sem ter que justificar para os outros por que não trocamos de carro esse ano, por que nosso apartamento não tem a quantidade x de suites ou por que não compramos aquela roupa daquela loja super cara. Sim, é possível ser feliz sem ter que provar o tempo todo que você é melhor que o outro!
Aprendemos a valorizar o sol e a sentar na grama para ouvir uma boa música. Descobrimos que é possivel ter uma vida social e cultural bem intensa, mesmo com um orçamento limitado, pois cultura e lazer também podem ser oferecidos gratuitamente ao publico. E agora, mesmo trabalhando, ainda tenho tempo para aproveitar muito do que a cidade tem para oferecer, pois também aprendemos a diferença entre trabalhar para viver e viver para trabalhar. E se seu horario de trabalho é até as 16:00 horas, pode juntar as suas coisas e ir embora as 16:00 horas, sem medo de ser feliz ou achar que as pessoas estarão te julgando. Aprendi a não sentir mais culpa por sair do trabalho no meu horario, afinal, já trabalhei as 7 horas pelas quais sou paga.
Eu achava que não, mas é possível passar meses sem uma visitinha ao shopping, cabeleireira ou até mesmo manicure e aprendi a conviver com isso. Na terra do faça-voce-mesmo, onde serviços são extremamente caros, a gente aprende a se virar sozinha. E já que o assunto é o que aprendi, posso dizer que aprendi a cortar o cabelo do Fabiano, aprendi a fazer a minha sobrancelha e arrisco até aquele esmalte vermelho de vez em quando! Tudo isso também faz parte do aprendizado nessa vida nova. Ainda no tema vaidade, aprendemos também a não reparar nas pessoas na rua. Aquela descabelada no metro, o ser humano de pijama no supermercado, ou mesmo aquela senhora super fashion de vestido de oncinha com meia calça pink que nos chocavam no inicio, agora passam despercebidos por nós. Após 1 ano, a frase "cada um no seu quadrado" nos faz mais sentido.
Uma das coisas que mais gostamos e que se incorporou em nossas vidas foi a sensação de seguranca. Andar pelas ruas, seja de manha, de tarde, de noite ou de madrugada sem olhar a cada 2 minutos para trás, foi uma das coisas que aprendemos. Não sei se sentíamos medo no começo ou se era apenas força do hábito, mas o dia que percebi que andávamos tranquilamente sem nos virar a todo tempo, pra mim foi algo libertador. Isso me fez lembrar que aprendemos também a parar no farol vermelho e andar com os vidros do carro abaixados. Desde que comecei a dirigir em São Paulo, nunca tive esse prazer, e o medo era algo constante. Além disso, pedestres e ciclistas deixaram de ser seres inconvenientes e aprendemos a respeita-los como prioritários no transito.
Mas é claro que nem todo lugar é perfeito e aprendemos algumas coisas não tão legais também. Aprendemos que, não importa a nacionalidade, o ser humano é cheio de defeitos. Infelizmente em qualquer lugar do mundo existem pessoas com certos preconceitos, intolerantes e que não aceitam as diferenças. Aqui não é diferente e temos aprendido a abstrair certas coisas e a nos defender e administrar determinadas situações.
Aprendemos também que ser imigrante é ter que se provar constantemente. Por melhor que a pessoa seja naquilo que ela faz, num primeiro momento muita gente vai duvidar e não darão aquela oportunidade que tanto queremos. Quantos imigrantes por exemplo começam num emprego "inferior" às suas competências? Pode ser pela questão do idioma ou pela dificuldade de reconhecerem a experiencia profissional e formação academica de pessoas que chegam aqui vindas dos mais diversos paises do mundo, mas sentimos que o imigrante é aquele que sempre começa a corrida em desvantagem e tem que correr em dobro para conquistar seu lugar no podium. Para quem imigrou com o marido/esposa, é principalmente nessas horas que a gente percebe um pouco mais a importância da pessoa que está ao nosso lado e aprende que a união faz a força, aprende a consolar, aprende a emprestar o colo pro outro chorar ou simplesmente aprende a ficar calado, apenas mostrando que estão enfrentando tudo isso juntos. E a boa noticia é: quando o casal está 100% comprometido com o projeto, a gente aprende a cuidar ainda mais um do outro, entender ainda mais os problemas do outro, o diálogo melhora e a relação se fortalece! No nosso caso, assim como o de muitos outros imigrantes, somos apenas nós 2 e se a gente não puder contar um com o outro, com quem contaremos então?
Antes mesmo de completar 1 ano (bem antes disso) a gente aprende que saudade doi....
A cada dia temos mais certeza de que fizemos a escolha certa e, apesar da grande saudade da familia e dos amigos, não conseguimos mais nos ver morando no Brasil. Nos sentimos como se não fizessemos mais parte dali e que agora nossa casa é aqui. Um sentimento estranho que só quem passa por isso consegue entender. Tivemos que aprender também a lidar com a saudade, mas sabemos que é algo inevitável e consequência da nossa escolha.
E hoje, olhando para trás e vendo tudo o que passou, só conseguimos chegar a uma conclusão: Esse foi apenas o primeiro ano do nosso Projeto Supernova, o primeiro ano de muitos e muitos outros que ainda virão! Apenas o começo de uma longa jornada repleta de aprendizado e descobertas, nessa cidade que já chamamos de "nossa cidade". E agora, seja bem vindo ano 2!