sexta-feira, 31 de agosto de 2012

E quando a gente menos espera...


A gente se dá conta de que o tempo passou e que estamos completando hoje 1 ano de Canada.

Se olharmos para trás podemos resumir esse ano em apenas 1 palavra: Aprendizado! Aprendemos muito mais nesse ultimo ano do que em qualquer outro ano de nossas vidas, tanto em coisas práticas do dia a dia quanto em  lições de vida e quebra de preconceitos, e a cada dia agradecemos pelo privilegio que temos tido de poder viver tudo o que estamos vivendo aqui. E para celebrar esse 1 ano de vida nova, queremos compartilhar aqui um pouco do que aprendemos.


Aprendemos a ser tolerantes, respeitar diferenças e que nem sempre o que é normal pra mim, pode ser normal para o outro e vice e versa. Aprendemos que opção religiosa, politica ou sexual não definem caráter e que cada um é livre para fazer o que bem entender da sua própria vida e que isso não é da conta de mais ninguém. A sensação de liberdade de viver sem ter milhares de pessoas cuidando da nossa vida é ótima e fez também com que a gente aprendesse a ser a pessoa que somos de verdade e não aquela pessoa que outros queriam que a gente fosse. Vivemos sem ter que justificar para os outros por que não trocamos de carro esse ano, por que nosso apartamento não tem a quantidade x de suites ou por que não compramos aquela roupa daquela loja super cara. Sim, é possível ser feliz sem ter que provar o tempo todo que você é melhor que o outro!


Aprendemos a valorizar o sol e a sentar na grama para ouvir uma boa música. Descobrimos que é possivel ter uma vida social e cultural bem intensa, mesmo com um orçamento limitado, pois cultura e lazer também podem ser oferecidos gratuitamente ao publico. E agora, mesmo trabalhando, ainda tenho tempo para aproveitar muito do que a cidade tem para oferecer, pois também aprendemos a diferença entre trabalhar para viver e viver para trabalhar. E se seu horario de trabalho é até as 16:00 horas, pode juntar as suas coisas e ir embora as 16:00 horas, sem medo de ser feliz ou achar que as pessoas estarão te julgando. Aprendi a  não sentir mais culpa por sair do trabalho no meu horario, afinal, já trabalhei as 7 horas pelas quais sou paga.

Eu achava que não, mas é possível passar meses sem uma visitinha ao shopping, cabeleireira ou até mesmo manicure e aprendi a conviver com isso. Na terra do faça-voce-mesmo, onde serviços são extremamente caros, a gente aprende a se virar sozinha. E já que o assunto é o que aprendi, posso dizer que aprendi a cortar o cabelo do Fabiano, aprendi a fazer a minha sobrancelha e arrisco até aquele esmalte vermelho de vez em quando! Tudo isso também faz parte do aprendizado nessa vida nova. Ainda no tema vaidade, aprendemos também a  não reparar nas pessoas na rua. Aquela descabelada no metro, o ser humano de pijama no supermercado, ou mesmo aquela senhora super fashion de vestido de oncinha com meia calça pink que nos chocavam no inicio, agora passam despercebidos por nós. Após 1 ano, a frase "cada um no seu quadrado" nos faz mais sentido.


Uma das coisas que mais gostamos e que se incorporou em nossas vidas foi a sensação de seguranca. Andar pelas ruas, seja de manha, de tarde, de noite ou de madrugada sem olhar a cada 2 minutos para trás, foi uma das coisas que aprendemos. Não sei se sentíamos medo no começo ou se era apenas força do hábito, mas o dia que percebi que andávamos tranquilamente sem nos virar a todo tempo, pra mim foi algo libertador. Isso me fez lembrar que aprendemos também a parar no farol vermelho e andar com os vidros do carro abaixados. Desde que comecei a dirigir em São Paulo, nunca tive esse prazer, e o medo era algo constante. Além disso, pedestres e ciclistas deixaram de ser seres inconvenientes e aprendemos a respeita-los como prioritários no transito.

Mas é claro que nem todo lugar é perfeito e aprendemos algumas coisas não tão legais também. Aprendemos que, não importa a nacionalidade, o ser humano é cheio de defeitos. Infelizmente em qualquer lugar do mundo existem pessoas com certos preconceitos, intolerantes e que não aceitam as diferenças. Aqui não é diferente e temos aprendido a abstrair certas coisas e a nos defender e administrar determinadas situações.

Aprendemos também que ser imigrante é ter que se provar constantemente. Por melhor que a pessoa seja naquilo que ela faz, num primeiro momento muita gente vai duvidar e não darão aquela oportunidade que tanto queremos. Quantos imigrantes por exemplo começam num emprego "inferior" às suas competências? Pode ser pela questão do idioma ou pela dificuldade de reconhecerem a experiencia profissional e formação academica de pessoas que chegam aqui vindas dos mais diversos paises do mundo, mas sentimos que o imigrante é aquele que sempre começa a corrida em desvantagem e tem que correr em dobro para conquistar seu lugar no podium. Para quem imigrou com o marido/esposa, é principalmente nessas horas que a gente percebe um pouco mais a importância da pessoa que está ao nosso lado e aprende que a união faz a força, aprende a consolar, aprende a emprestar o colo pro outro chorar ou simplesmente aprende a ficar calado, apenas mostrando que estão enfrentando tudo isso juntos. E a boa noticia é: quando o casal está 100% comprometido com o projeto, a gente aprende a cuidar ainda mais um do outro, entender ainda mais os problemas do outro, o diálogo melhora e a relação se fortalece! No nosso caso, assim como o de muitos outros imigrantes, somos apenas nós 2 e se a gente não puder contar um com o outro, com quem contaremos então?

Antes mesmo de completar 1 ano (bem antes disso) a gente aprende que saudade doi....

A cada dia temos mais certeza de que fizemos a escolha certa e, apesar da grande saudade da familia e dos amigos, não conseguimos mais nos ver morando no Brasil. Nos sentimos como se não fizessemos mais parte dali e que agora nossa casa é aqui. Um sentimento estranho que só quem passa por isso consegue entender. Tivemos que aprender também a lidar com a saudade, mas sabemos que é algo inevitável e consequência da nossa escolha. 

E hoje, olhando para trás e vendo tudo o que passou, só conseguimos chegar a uma conclusão: Esse foi apenas o primeiro ano do nosso Projeto Supernova, o primeiro ano de muitos e muitos outros que ainda virão! Apenas o começo de uma longa jornada repleta de aprendizado e descobertas, nessa cidade que já chamamos de "nossa cidade". E agora, seja bem vindo ano 2!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

As Roses da minha vida

Salut pessoas!

Sabe quando dizem que "quando a água bate na bunda a gente aprende a nadar"? Pois é, pelo menos pra mim o ditado é verdadeiro. 

Desde criança, sempre tivemos a sorte (depende do ponto de vista) de ter uma emprega doméstica em casa. Meus pais trabalhavam e ainda trabalham o dia inteiro, por longas horas e também durante a noite em vários dias da semana. E ainda, com 3 filhos em casa, a vida sem uma ajudante era bastante difícil. Por isso, desde que me entendo por gente, sempre teve alguém em casa encarregada de todos os afazeres domésticos.

O tempo passou, a criança cresceu, achou que ficou responsável, conheceu uma outra criança grande que sempre foi o filhinho da mamãe e juntos resolveram brincar de casinha em tamanho real. Mas, antes mesmo da brincadeira começar, já estávamos lá nos dois escolhendo quem seria o adulto da casa, aquela pessoa que colocaria ordem na bagunça. Nem cogitei a possibilidade de não ter uma ajudante, afinal também trabalhava muito e queria aproveitar meus finais de semana! Entre algumas idas e vindas, erros e acertos, eis que surge a Rose.

A Rose era uma pessoa meio louca, estabanada, que adorava tomar meus Yakults e se trancar sem querer na sacada. Ninguém podia começar uma conversa com ela, senão ela não parava de falar! Sempre tinha uma historia para contar. E pra mim, o melhor de tudo era que quando eu chegava cansada e estressada em casa a noite, o apartamento estava impecável.

Um belo dia, esses dois desajuizados resolvem se mudar para o Canadá. Mas e a Rose? Tem como levar na mala? No que dependesse dela, sim, ela estaria aqui em casa com a gente. Mas infelizmente a Maura não deu um visto pra ela também e a Rose teve que ficar no Brasil.

Chegando aqui, a água bateu na bunda! E não é que estamos aprendendo a nadar? O tema "faxina" foi um tabu nos primeiros meses aqui. Era só tocar no assunto que o meu bom humor ia embora rapidinho. Mas aos poucos fomos nos acostumando, e hoje já não é algo que nos faz perder o sono. Não deixou de ser chato, mas as "modernidades do primeiro mundo" diminuem consideravelmente o trabalho.

E a Rose que ficou no Brasil foi substituída pela Rosie canadense. Ela não fala tanto que nem a outra, nem toma meus Yakults, mas é estabanada e vive dando cabeçadas na parede e se enroscando nos móveis. A vantagem é que a Rosie canadense deixa o chão perfeitamente limpo, igual a Rose brasileira. A unica exigencia dela é que a gente tire as coisas do caminho para ela passar!


No final de um dia intenso de trabalho, tudo o que ela mais quer é ir pra casa e recarregar as energias por que ela sabe que em alguns dias, começa tudo de novo!


Em breve, Rosie canadense vai trazer uma companheira para ajuda-la aqui em casa. Enquanto ela varre/aspira o chão, sua amiga vai passando pano úmido (que inclusive é descartável e já vem umedecido do supermercado mesmo, nada de balde, pano de chão, etc). Pois quando o assunto é faxina, conseguimos encontrar por aqui várias opções que facilitam a nossa vida e transformam essa obrigação em uma tarefa menos difícil (ainda não prazerosa).

E amigas futuras imigrantes, comecem desde já a educar seus maridos para ajudar nas tarefas de casa, caso eles não ajudem. Tenho a sorte de ter um marido maravilhoso que me ajuda em tudo, mas ainda ouvimos histórias de vez em quando de alguns seres machistas que aparecem por aqui.

A bientôt.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

No trabalho hoje

Segunda feira de manhã, conversa de elevador, colega de trabalho me aborda e diz:

- Imagino que vc esteja com dificuldades para se acostumar com o horario de trabalho puxado aqui do Canada. As empresas aqui exigem muito e até abusam de nós.

Eu espantada respondo:

- De maneira alguma. Estou adorando.

Não satisfeita a colega insiste:

- Mas ouvi dizer que no Brasil as pessoas saem cedo do trabalho para aproveitarem as praias, parques, cafés etc.

Eu respondo deixando a gringa horrorizada:

- Nunca cheguei em casa no Brasil antes das 20:00hrs e aqui trabalho das 8:30 as 16:30, tendo boa parte da tarde livre pois chego em casa em no máximo 30 minutos. As pessoas aqui não tem ideia da vida boa que tem e ainda reclamam!

Não adianta, o ser humano é muito mal agradecido e sempre consegue reclamar de algo. Mesmo por melhor que seja a situação, a grama do vizinho é sempre mais verde.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Saiu no jornal daqui

Quando virei a página do Metro ontem de manhã e vi uma receita de coxinha, até me assustei. Nunca vi coxinha por aqui mas também nunca procurei - a unica vez que vi e até comemos, foi no Guanabara, pois por acaso acabamos passando na frente. Também nao sei a coxinha é algo conhecido pelas 251893 nacionalidades que vivem nessa terra e se essa receita (com titulo em português) despertará curiosidade ou nao. Mas enfim, a receita saiu no jornal e está ai a prova!



Chegando no trabalho, comentei com o pessoal sobre a receita brasileira que saiu no jornal. Alguns falaram que ignoraram pois não entenderam o que eram aquelas palavras, e algumas pessoas me perguntaram se era esse o tal do croquette de poulet que os brasileiros comem todo dia. Ao ouvir esse "todo dia" meu sinal de alerta tocou! Pelo menos eu, só comia coxinha quando ia em alguma festinha de aniversario de criança (e isso nao era muito frequente), por isso, acabei explicando e tentando desmistificar um pouco o mito do consumo da coxinha por esse povo tao estranho que somos nós, os brasileiros.

Depois disso, fiquei pensando um pouco sobre os hábitos alimentares dos brasileiros (rsrsrsrs) antes e depois da imigração e algumas perguntas ainda passam pela minha cabeça. Alguém que ainda está no Brasil, me responda por favor, quantas vezes na semana você come coxinha? Brigadeiro? Pudim de leite? Feijoada? 

Pelo menos eu e o Fabiano, só consumiamos essas delicias muito raramente. As vezes até uma vez por ano e não mais do que isso!!!! Agora pergunto: Sei que não tenho nada a ver com o que o povo come ou deixa de comer, mas por que vemos tantos brasileiros chegando aqui e já ficando desesperados por comidas tipicas como coxinha e brigadeiro? Muitos com pouquíssimos meses de imigração? Será que essas pessoas comiam essas coisas todos os dias ou toda semana antes de imigrar? Definitivamente é algo que não consigo entender....

Consideramos que uma das coisas legais que a imigração nos trouxe, foi a possibilidade de conhecer diferentes culturas e consequentemente experimentar novos pratos. Saímos do arroz e feijão de cada dia e nos abrimos para novas experiências. Descobrimos que gostamos de muitas coisas que sei que não comeríamos se ainda estivéssemos no Brasil (não falo de coisas bizarras, como carne de cachorro, tartaruga, insetos e etc) e temos deixado muitas outras coisas de lado que não estao nos fazendo a falta tão grande que faziam antes, como por exemplo a carne de boi. 

Acho que isso também faz parte do pacote adaptação ao novo país, nova cultura, etc e pelo menos pra mim, ficar preso a essas coisinhas (como a busca pela coxinha ou do brigadeiro de cada dia) dá a impressão que a pessoa nao imigrou 100% e está vivendo fisicamente aqui mas com a cabeça ainda no Brasil. Mas como disse, é a minha opinião e cada um come o que tem vontade! 

Mas, se eu puder deixar um conselho para quem ainda vai chegar, meu conselho seria: estejam abertos para as novidades! O mundo é grande demais e oferece uma quantidade infinita de coisas novas para conhecermos a cada dia! Explorar coisas novas e sair da zona de conforto também faz parte da adaptação, além de que também pode ser algo muito gostoso, e não difícil e traumático como dizem por ai! 

A bientôt!